A morte dos detalhes, a nova era "clean"

 

 Sala de jantar, modelo minimalista - (Mobílias por Casalgrande Padana. Cortesia de La-Kini)


Não é de hoje, muito menos de ontem, que percebemos a mudança brusca nos elementos básicos presentes no nosso dia a dia. Arquitetura, design, estilo — tudo foi se moldando de forma que, apesar das diferenças, se tornassem tão semelhantes. Esse movimento é conhecido como a nova era clean, popularmente chamada de estilo básico ou, pelas blogueiras, de “clean girl”. A ausência de detalhes leva a um padrão visual marcante.

Engana-se quem pensa que esse conceito surgiu apenas a partir dos anos 2010. Ainda no início do século XX, entre as décadas de 1920 e 1930, o arquiteto Ludwig Mies van der Rohe (1886–1969) rompeu com o maximalismo e lançou a célebre frase: “Less is more” (Menos é mais). Ele defendia a essência da praticidade e do minimalismo em suas obras, destacando a simplicidade como parte do cotidiano.

Apesar disso, o design que marcou toda a década de 1990 e o início dos anos 2000 ainda era repleto de detalhes. O maximalismo fazia parte da vida das pessoas, até que, de repente, o cinza predominante e a arquitetura de “escritório” ganharam espaço de forma significativa. O design gráfico e o design industrial, que evoluíram entre as décadas de 1960 e 1980 com o avanço das novas tecnologias, também influenciaram esse processo. Marcas famosas, como a Apple, apostaram em um design simples, funcional e de compreensão universal. A partir daí, outras empresas passaram a adotar esse novo “visual”, acompanhando a tendência.

Segundo o site RentCafe, em uma pesquisa realizada em 2022, 73,5% das pessoas afirmaram preferir paletas de cores claras e neutras em ambientes, enquanto 59% indicaram o design clean e minimalista como o ideal.

No artesanato, esse movimento apresenta tanto prós quanto contras. Por um lado, os artesãos podem apostar em peças “cruas” e formas “puras”, alinhando-se ao padrão minimalista. Isso também dialoga com o consumo consciente, em que os compradores preferem investir em uma peça única e de qualidade, em vez de várias com curta durabilidade. Por outro lado, existe o risco da perda da identidade visual artesanal, com a possibilidade de apagamento de detalhes culturais, como bordados, tramas complexas e cores vibrantes.

Ainda assim, os artesãos podem se adaptar, criando obras que se encaixem melhor nesses ambientes, sem perder a autenticidade que caracteriza o trabalho manual. Afinal, cada peça artesanal, mesmo minimalista, carrega traços únicos em sua composição — o que diferencia o minimalismo do artesão do minimalismo produzido em escala industrial.

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